quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O caso de Mari (Conto - Tentativa IV)

- Poderíamos nos encontrar amanhã de manhã então, certo?
- Vem para cá que a gente vê de qual é de fazer os corre.
- Tá. Estarei aí pelas seis e meia.
- Vou esperar. Beijo...
- Cris...
Desligou. Maldito. Mas, se bem que agente nem pode ficar falando muito.
Melhor para fazer é tirar esse telefone do gancho... Senão, por conta de a velha ter alucinado de querer saber tudo da minha vida, a cada dez minuto vai mandar um primo, um amigo de um irmão me ligar só para pentelhar. E é sempre um saco por que conversam tanto que me deixam agoniada e acabo por falar alguma besteira. Deixo escapar alguma coisa... Mas, na real, se começar a chamar eu vou é deixar tocar esse negócio; ligo o som mais alto, tomo meu banho e desço.
Devo admitir estar um tanto insegura por conta de aquele muro ser muito alto. Encontro-me com vinte seis anos na cara e ainda me vêem essas coisas. Legalismo que se dane. Vou lá, subo pela viga de metal que sustenta o toldo da vendinha, rapidamente. Paro. Tomo cuidado por conta de ser galvanizada as telhas. Subo pelo murinho-espaço de metal da viga. Caio para dentro pela janela. Tiro os HD’s tudo. Pego os piercings e entoco dentro da mochila. Em seguida: Pixadão na parede: Otário! Pulo os 10 lances da escada já pela janela. Escoro meu peso na parede, evitando bater na porta, aperto o botãozinho e saio pela frente. Tudo bem pesado e bem medido. Sem erro. Deixo tudo em cima do jamelão e vou em seguida para a sinuca. Isso é claro, depois que o fita lá trocar a idéia, levar a cerva e fazer com que os bichos desçam para jogar o bilhar...
Até aqui, tudo certo.
Na porta do barzinho... Entro... Respiro fundo...
- Uma cerveja em lata, por favor.
Dei uma olhadela de rabo de olho na geral do lugar e já vi Glauco, vindo. Esse é um tipinho que sai na rua somente para ficar alugando a paciência de mulheres que tem muita.
- Mariana? E aí mulher... Tranqüila? Sou Glauco, das 15.
Já me veio beijando. Odeio quem vem já beijando.
- Te conheço sim. O que me conta?
- Joga uma partida com a gente? Ali! – Aponta a mesa em que estão. – Olha até quem está lá! Veja se num é Monev lá da loja?
- É mesmo. Bem que eu até converso um pouco, sabe. Estou ainda apreensiva com o que aconteceu entre ele e o Cris.
- Quiii... Relaxa que essa história já num tem. Fiquei sabendo que os bicho tão até trocando idéia de boa. E que, se pá, Cris vem aqui hoje. Não sabia?
- Não. Depois que agente terminou nunca mais agente saiu nem se falou. E por falar nisso se vocês confirmarem a presença dele me avisem antes, tudo bem? Num estou muito a fim de entrar nessa de unir conflitinhos afetivos no mesmo ambiente.
- Pode deixar que dou o toque.
Tenho que fazer o papel ridículo de quem num sabe nada. De que estou ali de passagem. Daí com uma ou duas partidas que jogarem e seis ou sete cervejas que beberem já estarão altos e me olhando com cara de desiquilibrados, seguramente. Acho que vou me divertir um tanto.
Seduzo Monev e o deixo embriagado. Ele já me chama para sentar mais a fora por conta de mostrar um terreno no alto do morro onde a vista a seu dispor é impressionante...
- Vamos para lá? – Intervêm ele com aflição.
- Prometo que chegaremos em dez minutos. Aposto que nem vão notar que saímos. Daí ligo e peço para irem em seguida lá para casa. Pegamos a farinha e vamos pro meu escritório.
Típico. O cara tem um plano todo na cabeça. Proposição por proposição. Vai ver até que já é antigo e seus amigos, sabendo disso acham até interessante o fato de serem “trocados por uma dama” como amam comentar que adoram ser.
Na noite o que há de mais previsível é o homem, posto que poucos sabem se esgueirar nas sombras que à lua escapa. Acham que nada se constrói e esquecem que é nas sombras, onde se encontram as coisas perdidas que nunca serão descobertas de dia.
Monev quer tudo imediatizado pela segurança de sua circunstância. Mas, tudo bem. Imagine se ele soubesse que seus oito HD’s com os arquivos da revista de março de 2000 a dezembro de 2008, estão em cima de um pé de jamelão. Junto com sua coleção de piercing’s que nem sei quantos anos tem o mais antigo; e que na parede de fundo de seu escritório está escrito um enorme: Otário!
Nem se fala... Ai se ele soubesse...
Glauco estava com Jônatas que sorria aos berros por ganhar partidas seguidas em cima do coitado. Na mesa de centro, um pessoal divertido conversava baixo umas conjeturas que aparentavam ser sobre música e filosofia. Eram todos homens. Estavam tão bêbados que não dava para olhar diretamente em seus olhos. Cada lance de sinuca virava uma piada. Falavam baixo. Mas, riam como os porcos relincham. Será que todo mundo bêbado rir grosseiramente alto? Pareciam também tecados. Deviam ter rasgado um baralho violento.
Enfim, sei que a conversa com Monev estava até boa. Gosto do papo dele por que tem a manha de fazer uma história se ligar na outra como ninguém. É um contador de histórias nato. Também por que já viajou o mundo inteiro e é hiper-ativo com as palavras e conta caso aos bocados.
Resolvi dar uma colher de chá para ele. Pediu-me um beijo, eu dei. Mas, no espasmo da embriaguez ele me veio:
- E tu e Cris, como andam?
- Fiquei sabendo que ele virá aqui hoje, de modo que terei de partir daqui a pouco. – Respondi no ato.
- Então vamos comigo agora! Creio que ninguém vai dar bandeira. Agente fala com a galera para dizer a ele que eu não vim ao encontro. E você de fato não tem nenhum motivo especial para estar aqui. Não é mesmo? De modo que não há como ele suspeitar. Que tal?
Cris marcou mesmo com eles? Se ele aparecer aqui vai formatar um jogo muito perigoso. Mas, creio que não. E ainda, ele deve estar agora dentro da casa do tio do Glauco, levando as pratarias e jóias. Virado num Menegeth escorregadio pelos telhados das Mansões do Rio de Janeiro na década de 1920.
Mas, o que vale dinheiro mesmo são os documentos de engenharia, posto que o tio do Glauco desenha arquivos de protótipos para várias empresas automobilísticas. Cris disse que sabia onde estavam estes documentos e como consegui-los. Vejamos.
- Oooi.
Veio Monev interferir meus pensamentos, passando a palma da mão dando tchau na minha cara.
- E aí, está viajando? Vamos ou não? Se bem que podemos ficar no escritório mesmo...
E agora? O que faço? Ah! Vou levá-lo para fora e ficar conversando besteiras, enrolando. Darei a entender que aceito seu convite. Daí dez para cinco tomo um ônibus e vou para casa. Já estão dando quatro e meia. Preciso preparar algumas coisas antes de ir me encontrar com o Mino. Principalmente resgatar a mochila. Já estou ficando agoniada.
A rua estava vazia. Não havia mais nenhum outro boteco aberto. Só uma barraquinha de cachorro quente que dava de frente para a sala dele. Num é que bem na hora que estávamos saindo da sinuca junto conosco saíram também os bêbados filósofos! Monev não sacou nada. Ao menos é o que deu a entender.
Cantarolavam músicas do Cartola.
Quando eu menos esperava uma ação excêntrica vinda daqueles malucos, um do cabelo grande vestido com calça social cinza, blusa marrom com um estranho símbolo impresso no peito esquerdo se lançou exatamente onde a pouco eu havia subido para entrar na sala de Monev.
Só que, puta merda, fiz menos barulho! Os vizinhos ouviram sua ruim performance no andarilhar por cima das telhas de metal e danaram a gritar:
- Êi, êi!!! Haaaaa!!! Haaaa!!!
Como homens das cavernas.
Num ímpeto de raiva o morador da sala sob o escritório de Monev arremessou o que parecia ser uma tampa de gaveta. Nossa! Foi quase! Por um triz não acerta a cabeça daquele louco. O que haveria ele de fazer ali? Só que por dentro eu estava achando ótimo já que aquilo poderia ser um álibi dos melhores.
O maluco saiu correndo e entrou pela janela de Monev que se desesperou:
- Fique aqui e me grite se o filho da puta sair. Vou ali chamar Jônatas para agente quebrar a cara desse desgraçado.
Eu me ria por dentro inteira. E pensava: - Covarde nem para bater em bêbado serve.
Daí o maluco saiu da janela e lançou-se de uma altura mais ou menos de 4 metros ao chão por trás do prédio de Monev e desapareceu. Fiz o que ele mandou. Gritei:
- Monev!!!
Ele chegou desesperado me perguntando o que havia acontecido, eu disse – Ele pulou e sumiu no meio daquela escuridão ali.
Tomaram do carro, Jônatas e ele, foram atrás do maluco.
Pensei em ir embora, já que seguramente os vizinhos chamariam a polícia e sobraria para mim testemunhar qualquer pendenga que acontecesse. Ainda mais que dono de bar, para livrar sua cara, acusa é todo mundo e logo solta uma do tipo: - Aquela dali também estava no meio!
Enquanto isso Glauco se dirigia para o escritório. Tenho que me ir. Havia um táxi parado na frente do bar. Devia ser de outra pessoa. Pensei em tomá-lo, mas, na verdade fiquei preocupada: Como haveria de resgatar minha mochila depois dessa? Pensei. Vou esperar os meninos voltarem. Daí eu vejo o ânimo deles. Não posso ficar aqui. Não mais.
Vou pegar a mochila agora. Glauco a essa hora já sabe de toda a presepada. Já deve ter ligado pros meninos. Estou vendo tudo já. Deu bosta!
Pensando bem não foi uma boa ter ido ao encontro deles no barzinho. Nossa! Tem muito elemento contra nessa história. Mas, puts! Como eu ia saber que um infeliz agiria daquela maneira, como um louco varrido? E ainda, será que Cris virá mesmo aqui hoje? Não venha, meu amor, senão será a maior roubada...
Será que está dando tudo certo com ele? Eu ao menos já tirei meu corpo da cena. Será que ele foi pego dentro da casa? Deus e o livro, nem pensar...
Bem, como sempre faço: respirei fundo e dei a olhadela geral. É isso: Os bêbados músicos! Estavam de carro.
Lembro-me que ainda a pouco quando um deles inventou de subir no prédio alheio, acordando todo mundo como um paspalho e o cidadão tacou-lhe um pedaço de pau, outro se indignou a gritar: - Ta maluco cara! Por que você tenta agredir meu parceiro?
É mole?
Rapidamente me veio a cabeça que se Glauco me ver com eles pode suspeitar de alguma coisa.
Dois saíram de carro nesse tempo. Ouvi que era por conta da polícia. O outro maluco saiu correndo atrás do amigo que se meteu a dar uma de louco. É, não havia o que fazer. Já vejo até meu ônibus virando a esquina lá em cima.
Vai dar tempo. Saio correndo por trás do prédio, chego no jamelão, pego a mochila e volto correndo para tomar o ônibus. Sem olhar para trás... Dane-se! Com sorte Glauco estará averiguando o prejuízo. Não! É se arriscar demais. Vai que eles chegam bem na hora, sei lá...
Tá! Ligo para Ingrid daqui mesmo e falo com Glauco em seguida. Peço a ela que venha me buscar e digo a ele que irei embora. É isso.
Por sorte Ingrid estava na noitada e, a ponto de partir para casa. Pedi a ela se podia me buscar na quatro.
- Claro menina! Estou já passando aí.
Foi rápido que ela chegou. Não esperava. Assoviei para Glauco e disse para me avisar de qualquer coisa que acontecesse depois. Saímos.
Ingrid estava sozinha. Coisa que não acontece muito. Contei o caso para ela da parte que o insano subiu no escritório de Monev em diante. Deu umas boas gargalhadas por que acha bem feito acontecer essas coisas com Monev já que pela sua lente ele é um tremendo filho da puta.
- Será que posso passar essa noite na sua casa? Tenho de sair as seis. Já daqui a pouquinho. Juro que não incomodo. – Indaguei.
- Claro meu bem. Sem problemas.
A casa dela é bonita que só. Construída toda na madeira. Um terreno imenso com plantas por todo lado. Na entrada se percebe o zelo que sua mãe tem em misturar os ambientes. É tudo no vitral de modo que quem entra pela frente é capaz de observar todo o quintal até a sala de estar que dá para os fundos, onde também tem outro vitral como parede.
- Ingrid? Você num vai acreditar, mas, esqueci minha mochila no escritório do Monev. Posso ir com seu carro lá buscar? – Soltei essa!
- Vai lá! Toma a chave e entra sem fazer barulho depois. Se demorar mais de dez minutos chegará aqui e estarei dormindo.
- Não se preocupe. Eu volto e ao sair pela manhã deixo um bilhete.
Tudo armado.
Ingrid é muito complacente. Pedi três coisas em menos de uma hora e ela me concedeu todas com prazer.
Paro na rua da área verde onde está o jamelão. Entro no beco e recolho a mochila, tomando cuidado com os cachorros. Tudo certo. Vou ligar pro Cris. Beiram as 6h15 já.
- Oi Mino.
- Onde você ta?
- Na frente da casa da Ingrid.
- Não vem não?
- Estava preocupada com você.
- Não se preocupe. Deu tudo certo. Temos que partir o quanto antes.
Havíamos combinado um mês atrás uma viajem às escondidas. Já que para todo mundo não estamos mais juntos. Ele disse a todos que comprou uma viajem para Bahia e eu estou de passagem comprada para João Pessoa. Minha tia até me deu uma grana e acha que estou deprimida por conta do fim do namoro até hoje.
- 6h15 em ponto! Vamos, entra no carro e vamos nessa! – Disse Cris quando me viu chegar.
Tacou-lhe um beijo em mim que estremeci.
- Rodolfo está nos esperando e disse que já tem o dinheiro. Todos os 30 mil. Disse que ao pegar a mercadoria deposita na hora em nossa conta conjunta. Devemos chegar lá umas 8h. – Disse ele com muita confiança no espírito, passando a mão macia em meu rosto e rindo um riso amistoso.
Fico pensando se der alguma coisa errada. Mas, se eu falar ao menos um “a” com ele sobre isso vai me vir com sete pedras. É melhor deixar para lá.
Não é que entregamos tudo com exceção dos tais protótipos de carros em arquivo - que sei lá o que Cris irá fazer com eles - e Rodolfo depositou na mesma hora e, na nossa frente, a grana!?
Saímos rumo ao aeroporto de Juscelino. Troquei minha passagem. Tomamos vôo no ato pro Peru já faz três meses e nunca mais comentamos nada sobre este incidente.
Somente Ingrid que me escreveu um e-mail dia desses, dizendo saber de tudo e, que descobriu por que se encontrou com Glauco que disse ter passado aquela noite no escritório. Ela perguntou se por um acaso ele havia me recebido, quando fui buscar minha bolsa.
- Foi buscar bolsa nenhuma! Somente a vi quando vocês saíram juntas. Não mais. – Respondeu ele prontamente.
Ingrid disse ainda que outro dia Glauco havia lhe avisado que seu tio lhe acusava de roubo por conta que na noite do acontecido o responsável por sua casa era ele, Glauco, que tomava de conta da mansão enquanto seus familiares viajavam. Deu o maior bafom.
A danada pediu que eu confiasse, enquanto não mentisse mais para ela.
- Me avisa sempre onde estiverem por conta de se eu ousar fazer o mesmo encontro com vocês!
Que mocinha... Jogou um belo verde, soube de tudo e ainda me tem nas mãos.


***

Sinceramente

Distante da liberdade das flores
Seguras de ter o sol para brotar
Me encontro infeliz a contar
O peso que acarreta minhas dores

A lágrima menor não desce
O sangue, que é vida, me sustenta
Mas, ao passar no coração padece
Ao intuir a ferida desatenta

De que vale uma alegria boba?
Mais do que as palavras que não sinto?
... É o instante que fratura

Um anjo que minha flecha rouba
Um demônio que me atenta... minto!
Travando uma soberba pura

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

E-difícios de carne (Parte I)

O Tamanho dos pêlos que latem com os cães
Dissolvem minha tremulescência frente ao que percebo.

Sair cedo.
Rumo ao fogo feito de nada
Donde encontro os fumos brisas de horrores...
Risos.
Cardápio pronto do acionamento cognitivo.
Como somos como as salamandras
Em termos ditos ignorantes frente a qualquer ilusão?
Não! Espaço amado-interno retorno,
Respostas.
Calvícies que escapam dedos cheios
Torturas mestras que medram... Silhuetas vazias...
Fantasmas.
Corrupções harmônicas desiludidas
Tolerância ao fraco que se quer morto.
Dramas.
Sortilégio da matéria... Substância de admiração.
Pandemônio de ações que nem forçam o risco ao raciocínio que se esvai...

O DNA que explica o fenômeno da consciência,
Abre-me quanticamente ao freio que ponho na ciência.

(...)

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

hoje

no extrato amargo de formas me encontro
cheio de anseios e medos sonantes
vejo a cramura gritar rios meu fosso
feito da pele de quem hoje abandono...

trÂnses autônomos

de um relance que invade lembro alguns instantes
recordo-me que vez por certo tinha sido
um descontrole fixo da imagem impressionante
e um arrepio frágil de um esplendor sofrido

o interro dos medos na nostalgia camuflada
nossos riscos vazios em dispersos frascos
ferrolhas aos montes pela mente assaltada
e transes veridicos no perpassar dos rastros

outrora a sede era quem me interrompia
quando no ato trêmulo do pêndulo entre as gentes
momento solto no espaço alçava

cadência breve e estonteante ouvia
nos entre tempos de ilariantes crentes
aceno simple já que longe estava...

Oduduá

Murmúrio que geme (Conto - Tentativa II)

A pequena sacada saía do quarto da casa de um casal de jornalistas que me alugaram, enquanto passavam ano n’outras bandas.
Dava para uma rua de sobrados. De esquerda, um vizinho muro de lajota havia. Fui levado antes de chegar - após da labuta - ao encontro de um amigo que na descida da esquina me fitava. Vinha a dizer que outrora se deu completamente a refletir sobre os temperamentos e ações da juventude, quando indócil e ébria na noite persegue o gosto do sexo selva-gemente. Interessei-me no ato e quis mais saber onde é que tinha ele chegado com isso. Percebi que se incomodava de alguma maneira.
O que lhe alterava o ânimo era compreender como, diabos, poderíamos lidar com a oscilação dos hormônios dentre tantas formas humanas que adoraríamos assenhorear por vez ou em bando. Achei bem conexo já que não sabia também.
De fato existe uma disposição comum entre as gentes que andam pelas noitadas - bebericando o orvalho das garrafas em bares e festas - que é cumprir com o mínimo dos joguetes da sedução e do desejo. Daí começa... Olhares de través. Sorrisos calorosos. Toques mais leves e constantes. Contrastes da mistura andrógena. Vontade de chegar junto e rascunhar tentativas de um beijo enquanto se fala perto...
Se a música de qualquer natureza der a entender que se pode aderir na dança, haja sobriedade para segurar no interesse o acasalamento.
- É claro que as coisas podem de fato simplesmente acontecer sem que haja algum interesse. – Disse ele. Mas, em seguida concluiu que não.
- Sempre haverá o danado!
Enquanto ele falava - devo admitir - pensava eu cá em outra coisa. Na mesma linha só que, ignorando a preocupação de saber os por quês e os comos e fazendo a pergunta para os envolvimentos que se dão maravilhosamente, quando se procura alguém para juntar - em empreitadas solteiras - o mesmo intuito pelas coisas. Sem dramas.
Dirigimo-nos para um barzinho de mei de rua. A garotada costumava chamar de copo sujo. Na real nem tinha um nome certo e era freqüentado por senhores que se acabavam na cachaça. Não iam mulheres lá. Ao menos nunca que eu as tenha visto. Sentamos e pedimos uma brêja.
Continuou a história dele. Seu nome é Juliano. Olhou-me fixo com uma fisionomia um tanto amargurada. Seus olhos engrossaram traços e com a boca semi-aberta por uns instantes depois decidiu pronunciar que no ontem de ontem uma moça tinha lhe fascinado por conta do cheiro que dimanava de sua vagina. Em suas palavras era o cheiro do paraíso. Só que a moça não namorou tanto o desempenho dele no leito e fez o favor de pôr à contenda para uma amiga que espalhou pra outra e aí foi.
No ontem, ele disse que foi novamente na cara de tampa ao encontro do dito cheiro do céu. Ela tava com mais três amigas num boteco ajeitado.
- Ao menos mais que este onde nos encontramos. – Definia sua história.
Disse ter sido uma das coisas mais desconfortáveis da vida.
Creio que seja bobagem.
Mas, o ego do macho para ele não pode ser negligenciado por conta da atividade sexual.
Creio que seja besteira, mas, creio também que depende da situação em que estejamos imersos. Em um caso destes é palha mesmo. Não há de negarmos que quem se enfiou nos entremeios das silhuetas das coxas da garota foi ele. E que foi ela quem estava lá. Se o caso é que ele mandou mal... Fazer o quê? Chega uma hora que tudo é possível dentro do que está para jogo. E se ele é quem veio dizer é que tanto para esta como para tantas outras ocasiões a gente na madrugada é muito fraca em reservar segredos. É dizer que é segredo e fica aquela coisinha segredando um roçar na ação de não guardar. Rola sempre um desconforto no desejo caso tenhamos algo escondido. Mas, a preocupação dele não era nenhum pingo essa. Entendo...
Ainda me veio cheio de detalhes, onde a dona pousava esbelta suas delícias e acariciava o busto de baixo à cima num reiterado suspender das mamas. Onde tesourava as pernas no alto e encostava as coxas nos seios, no sofá. Tudo com grande olhar sinuoso e um rancor inexplicável. Minha ação foi nenhuma, quase, posto até que já estava embriagado, quando do copo já tinha tomado e trocado de brêja para cana faz ao menos uma hora. E em verdade estava mesmo era cansado daquele papo todo.
Veio-me a cabeça dizer que não haveria de se preocupar tanto com esse episódio. O melhor a se fazer é expor um tanto menos a própria testa para evitar comentários lamentáveis já que este tanto lhe afetou. Deve-se olhar para outras brenhas e encontrar um cheiro menos pretensioso que o do paraíso, pois esse tal lhe agiu como um verdadeiro inferno...
Foi o que entendi. Acabei por ponderar...
Neste andamento transita como a gazela mais bela da rua minha vizinha Lídia em frente ao bar. Toda risadinha. Com ares altos e, acochada de malícia por um maluco que deve de ser um ótimo orador, pois Lídia não parava de gargalhar; Apesar de que basta estar na de alguém para que o riso em lascívia se estenda e torne a forma comum de nossas faces.
Digo a meu amigo que volto em ao menos uns trinta minutos. Ele nem contrapôs.
- Que se vá então!
São suas palavras.
Creio não ter se atingido da ocasião em que estava eu interessado. Também por mim não comento.
Meu interesse é seguir esses dois. Sei que irão se misturar em gritos pornôs como sempre faz Lídia com cada um de seus amantes. Da parte dela escuto nas noites e madrugadas a exigência de um grito de prazer.
Já estou eufórico... Eu sei que ela é uma profissional das casas que muitos chamam de primas. Só que ela é daquelas que chamam de luxo. Minha vizinha. Basta eu me dispor saber que irá alguém em seu quarto, já convido moças para trocar lambidas corpóreas juntos numa sensação de malícia enquanto escutamos a transa eloqüente de Lídia.
É dado sempre que na noite, as flores que cheiram safadezas salientes e a lua cheia engrandecida por volúpias e desejos de prazeres compõem uma atmosfera erótica em alto nível de cor-rompimento.
No mais, no caso é crepúsculo. E os elementos não faltam nenhum deles que bastam um afago principiado com a ânsia do calor que emana de dois corpos nus para no delírio dos fluidos-fluírem...
Somente quero ouvir algo, posto que nesta circunstância, participo por mim somente e não escuto nenhum ruído. Nunca poderia eu pensar... Creio que dormiram. Será? Não se ouve nenhum tipo de insinuação sexual. Fico aqui com as orelhas alertas nas fissuras das paredes. Nossa, minha intenção é tanta de ouvi-los gritar que de súbito isto está me excitando muito. Penso o que devem eles estar fazendo e imagino seus corpos sendo bulidos de um por um. Mas, de repente escuto algo como sussurros de algumas palavras e por trás delas um gemido. Um gemido feminino. Um gemido de Lídia. Aquilo invadiu meus ouvidos e me explodiu em hormônios de tal maneira que me encostei na divisória e me arrastei até o chão. Tento ouvir mais alguma coisa e sempre me vem o gemido. Aquele gemido. Nunca havia Lídia se pronunciado por gemidos. Eram sempre gritos pornográficos.
Olho ao céu e tenho lá a lua grávida de amantes. Não é possível! Esse gemido não me sai da intenção. Esse gemido me faz ficar aqui a noite inteira esperando o próximo. Mas, até agora nenhum outro. O que haverá de estar acontecendo lá dentro...
Meu amigo! Vou ligar para ele.
- Oi. Então! Preciso de um banho e de uma noite de sono. Depois que cheguei no quarto é que me apercebi.
Ele retrucou que eu deveria ter, no pior, me despedido. E não, dito que iria voltar. Concordo. Mas, aquele gemido corrompeu minha vida... Ele não entenderia como. Teria até lhe convidado... Nada. Se dissesse que o caso seriam penetrações impulsivas e gozo flamejante e possuído aos berros com certeza perderia a fineza esse gemido por conta de Juliano querer seguramente chatear as coisas por ter eu inflamado o contrário. Fico aqui sozinho então até o amanhecer. Ecoando voluntariamente esse sussurro do prazer de Lídia, sem chance de sono ou esquecimento.
Que delícia de gemido...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Psicosonhando

Fazia um tempo cansado, mei que de inteiro arrastado
Quando de um trago lembrava
Coisa que eu não mais ousava
Dispor-me à palavra em verso
SObre semelhante gesto
Q'outra mulher retratava
Disfarce meu sem contexto,
Caí na vista e sentei
Sem ânimo algum
Retruquei:
Por que do amor sem pretexto?
Vi que de nada adiantava
Posto que o amor não estava
Por condição de braçada em medida
Palmo infinito de espaço
Não que sem cor num haja vida

domingo, 25 de janeiro de 2009

Auvéolos

De repente uma corrente faz doer por trás da vista
E nada mais contínuo passa mesmo que eu persista
Uma pressão na testa, uma agonia risca
Toda a minha idéia não deixando pista
Tentei por um tempo crer não ser nada
Roubei de um santo o saber por padecer na estrada
Em verdade, digo que me ofereceu morada
Nos braços da estrela, sua torre alada
Comentei que já por dias nenhum sono me sacia
Apenas penso o por vir que o amanhã não cria
Disse que assim mesmo a dor me veio fria
E que tudo dito agora, ou antes, ele já sabia.
Sem nenhum sopro calei-me em esplendor
De bruços deitei e apreciei o calor
Comi as vestes vivas das folhas de um sabor
Que aí sim cri como é morto o despudor
Vários traços perdi, droga, joga=dos a Dante
Vários mares enguliram a folhagem insinuante
Poucos são os vestígios que tendo a recordar, doravante.
Meu corpo grita apagar aquele instante.

Controle

Uma sensação solitária
De um pesar dos olhos quentes
Onde num dia todo não me fez contente
Furor amargo de estúpido suplício
Não estou só por pleno vício
Nem mesmo latejando de espera
No entanto penso que já era
A luta estreita de meu dissílabo peito.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Perdão... Perdido!

Como a ponta aguda de uma faca invisível,
Perfurando o ser sensível,
Demonstrando ser incrível
A cascata da carta muda
Que me poupam inteiro a derrota,
É assim e só que percebo.
Meu coração na ponta de um dedo
Que para saltar ditou ser cedo
Mas, para direcionar a porta
Comportou-se com insólito fulgor
Rasgou toda a manhã em retalhos
Denunciou a tristeza do ato falho
Transformou um ser em espantalho
Que teme seu próprio pavor
Dentro de toda a mutação
Sobrou só um resquício de verdade
Cultivada sem o esterco da maldade
Sim com a santíssima trindade
Que faz da lâmina seu vão
Ou uma discreta cuia que deseja
Do perdão, um só da boca
Mesmo que lúgubre e rouca
É isso! O som doce que ele almeja

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

poesia de início

toda a graça de encanto que me envolve
traz a velhice comigo que se move
junto das alturas lembranças derradeiras
de tanto ter de cair e bater a poeira
destas que impregnam na intenção de renovar
e estancam nossos segredos para o além mar
digo por que estou aflito pela idade
e sei que hei de morrer mesmo é de saudade...
feliz ano passado