sábado, 28 de fevereiro de 2009
respira
quando da vinda ida ou chegada respeito
não sem pavores da infinta estaca
e agonias do que envelheço pelo feito
seguidas foram as vezes que vi
as 12h baterem estaladas no canto
3 dias, mas, sobrevivi.
o cansaço em que me inundo causa espanto
não temo as alvoradas em claro
de fato não há nada que temo
se estou aflito é por ter bom faro
e pouca astúcia para enxergar veneno
quero o dia todo e a madrugada
fazer-te compreender meu dialeto
que jorra com afinco uma jornada
de angariar fluidos de amor perto...
assim me imponho... inspira
alma mágica que apanha
todo meu dom, me respira
fixa-me o zen na entranha.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Amor Subjetivo (Conto - Tentativa VII)
Viu-se diante arcanjos que lhe adiantaram que os amores loucos que sentia pela imagem que criara em mente fariam dele um fracasso. Cego, não entendia o porquê de estar condenado a uma distância ininteligível de mundos, já que o amor da juventude predito no Banquete é o mais antigo dos deuses e, para tanto, como um deus não haveria de estar nunca privado de transitar por entre os planos.
Quando sentiu em seu corpo a gélida sensação de não perceber a presença viva de sua amante, tragou num gole o restante da Boi Parido. Vislumbrava uma empresa de que caso o álcool lhe rasgasse o fígado nem se pronunciaria ao fato de que sequer tocou na moça.
Não havia sentido continuar essa ilusão enfurnada em sonhos dos quais a embriagues - já por dias - consumia.
Em tal tempo, ele a viu aproximar sigilosa. Disfarçada em vultos que a lucidez desapercebia. N’outro gole lhe veio novamente, agora com um rogo instalado no irrefletido – Venha encontrar-me...
Onde? Como? O por quê para ele era certo.
Rente ao chão, lançou um dos braços na captura de uma faca que lembrava estar na cozinha jogada, por conta de ter nesses dias usado como chave de fenda para parafusar um suporte.
Esquecia-se que há muito saíra de casa e estava agora dividindo espaço somente com as sete garrafas de Boi Parido guardadas numa grande sacola de couro costurado em remendos junto a alguns livros...
Olhou o ambiente da construção onde estava.
Prédio antigo, há muito abandonado. Lembrou-se de saltar o muro e se dirigir pro terceiro andar.
Sentia-se em qualquer sala.
Não fazia sentido continuar tão ávido por detrimento em compromisso tão incerto. Mesmo assim se entregava. Acreditava
Retorcia-se, amargurava-se e pensava individualmente que ela haveria de estar sentindo o mesmo...
Individualismo? Não? Se todos os seus desejos se encaminhavam para o encontro de tal amante que lhe interrompia até a própria sobrevivência, fazendo com que o atordoado poeta largasse a ilusão da vida na crença de que ao fim de tudo a encontraria? Loucura!
Tudo estava sendo movido por uma vontade constante de tê-la em seus delírios milhares de centenas de vezes, pois só assim ele se sentia forte em absoluto para buscar em qualquer plano a felicidade infinita em controvérsia da tristeza. Mas, para aparecer ela se demorava.
Tal paixão insana era tanta, de quantidade desumana. Compreensível se entrarmos no empirismo de conhecê-lo pessoalmente e sentir de perto a rajada emocional que dele aflora, envolvendo seu complexo entusiasmado de somente ditar sobre como seria a ocasião de encontrar seu amor distante.
- Nunca desista de sua atração por meus anseios. Apareça em minhas alucinantes conformidades.
Dizia ele mais a si que aos outros, achando que talvez sua esquizofrenia amante o escutasse mesmo há anos luz de espíritos metafísicos distantes.
Foram três semanas sem dormir e a meditar com calma. Nem toda a agonia que reluzia de seu peito... nem toda a desesperança medonha que sentia o fez esquecer de tão mágica aparição.
Seus olhos dormentes não conseguiam sair da vigília catatônica que malograva sua liberdade.
Lembrou-se por hora de sua mãe, mulher honrosa, amorosa em todas as horas e altamente religiosa. Tinha o aspecto físico frágil com reentrâncias nas omoplatas, deixando à mostra a forma magra de seu corpo, quando aleatoriamente põe um top que realça e cobre o busto de negro como seus olhos, por onde se percebe alguma espécie de sentimento oblíquo.
Deu uma risadela de canto de boca e lhe veio em mente que sua irmã mais velha não conseguia discernir de nenhum modo as situações que o mundo lhe impunha. Isso lhe veio puxado pela insinuação do riso. Concluía que ela era burra feita uma porta. Por ser baixa em altura se fez arrebitada
Cárila é o nome dela. Algo em torno de um metro e sessenta de altura. Seios grandes e robustos. Os dentes se mostravam a qualquer um em fascinante sorriso; todos dentro da boca. Realmente traz Cárila o ar da beleza. Mas, irrompe de abusos no descoloramento dos pêlos para fazer render uma vaidade que somente à classe média cabe gosto.
Inara... Recordou-se de súbito. Sua irmã mais nova. Tinha por ela carinho particular e extremoso. Gozava de quatorze anos da puberdade que nessa idade é que se impõe eterna. Era forte em temperamento e astuta
Sucessivas lembranças lhe fizeram refletir sobre como ocorreu dele ir parar naquela saleta que cheirava a cimento batido e pó de areia.
Foi numa tardezinha onde gastava a sorte lendo Augustos dos Anjos, ouvindo Cartola e Noel Rosa. Numa tarde distante de perceber seu errôneo sentimento, pois não reconhecia que aquilo que lia e ouvia servia por certo como absoluto de suas verdades e que sempre haveria de excitá-las com violência. Insistia assim, mais burro que sua irmã, em algo inadequado. Algo que não tinha. Que não existia. Desta maneira foi que sucumbiu. Decidido a apenas ser junto duas pessoas sem nem ter por base o que haveria lhe causado tal desatino. Dizia que tratar a essência como este delírio funcionava como catalisador de suas psicoses.
Tratava-se, na real, certamente de um ardil para tornar surreal qualquer imagem ou ato. Desta maneira não me espanta o fato dele “ver coisas”.
Trazer imagens do inconsciente de olhos abertos.
Acordado e são!
Teorias malucas...
Depois de nove anos de estudos filosóficos dentro da sutil involução retilínea que existe em frente ao mundo acadêmico no ocidente seus delírios falavam alto e tomavam conta de toda sua energia vital. O guiavam por caminhos onde se instala a loucura que reduziu nosso amigo a um ordinário demente estupefato diante mil vultos de mulher que ele dizia ser sua amante.
Ao findar daquela mesma tarde de paredes rabiscadas com mantras ebós de orixás e ditos de alguns sábios pensadores em seu quarto deu de ter convulsões características da incorporação de entidades. Sua cabeça não se cansava de bolar perguntas e nelas inculcar qualquer tipo de argumento que fosse de encontro ao fato dele ter de se entregar de vez a sua amante imaginária.
No meio de uma lenta e extensa tontura suava frio com a respiração forte. No chão estava em estado febril. Olhou a aresta da parede onde lhe interessava o filtro dos sonhos dependurado em um prego a um palmo da quina. Daí começou a ouvir ruídos. Enlouqueceu. Gritou alto.
Pegou a bolsa de couro costurado, uma peça de roupa, os livros, 90 conto e saiu do quarto num pulo que o fez ter de encontro esbarrado com sua mãe. Os dois pasmaram-se por um momento, quando nosso amigo soltou outro grito enlouquecido e gritou tais palavras a seu cachorro:
- Só a embriaguês torna são um homem louco!
Correu pela rua até encontrar um armazém de bebidas. Comprou sete garrafas de Boi Parido e foi andando, com uma delas já de goles após ter posto as outras na bolsa.
Já estava escuro quando encontrou a construção, pulou para dentro e na sala em que se encontrava e no que desmaiou sonhou com a imagem de uma mulher que ele havia esse semestre configurado na cabeça. Ela aparecia linda com os braços pintados de verde, um belo cocá vermelho na cabeça e um saião de seda de um branco transparente. Trazia os pés descalçados e os seios nus.
Ele foi felino em abraça-la. Tacou-lhe um beijo e ela contribuía jorrando desejos pelos poros. Amaram-se durante horas de sonho até que ele despertou ainda ébrio.
Procurou outra garrafa de cana por conta de ver se novamente desmaiava. Foi capaz de finda-la toda em três goles. Não desmaiou. Daqui que lhe veio o recado do outro mundo e a agonia de buscar a faca para cortar seus pulsos. Quando percebeu que estava em meio aos escombros da construção, levantou-se num salto ágil e, avistou algo brilhante vindo da paisagem que o buraco da janela dispunha. Era “ela” com a mesma forma e vestimenta que apareceu em seu sonho. Desesperado, nosso amigo quis correr ao seu encontro, mas, os três andares lhe impediam.
Enquanto ela se aproximava o sol nascia fazendo cócegas no horizonte. Na busca de enxergar a imagem que sumia nos raios da estrela, nosso louco ficou cego, quando de todo o sol disposto.
Era dia. Ela havia desaparecido. Ele se frustra enquanto urina para dar lugar a mais uma garrafa de Boi Parido.
Quando do seu olfato não agüentou mais o cheiro do álcool misturado com os ácidos que iniciam a digestão no estômago foi que deu a compreender que a morte viria se ingerisse ao menos mais uma gota da bebida.
Revirou-se por entre os escombros e sem querer sentiu um papel na mão que puxou
Mas, aquelas aguçadas intromissões neurológicas já estavam passando dos limites. E como tudo o que chega ao ápice tem seu devido declínio subseqüente, achava ele estar no fim de uma situação, onde qualquer circunstância poderia desregular o caminho do seu destino.
Como a sobriedade já estava tomando conta de sua consciência ele abriu outra garrafa e começou a degustá-la com uma lentidão tão profunda e oriental que parecia ser a última.
Aos pouco foi novamente entrando no ar obliquo o qual se encontrou por algumas vezes enquanto narro esta história.
Às vezes, quando existe a idealização de um ser dentro da consciência humana, esta se desprende da sanidade em variáveis níveis de dormências musculares, numa excitação sem freios a determinado aspecto que chega até a espreitar sonhos alheios, esperando que esses lhe sirvam de alimento. Sonhos esses que também contribuem para uma sonâmbula fluidez que vagarosamente se deixa acordar como parte de um despertar vagabundo que se sente satisfeito apenas com um bem dado amplexo.
Não me recordo há quanto tempo e nem quantas garrafas tomou nosso amigo desde que saiu de casa. Apenas tento entrar de forma um tanto grotesca e inusitada na sensação de desprezo por tudo o qual ele se encontrava; na sensação de total afeto esquizofrênico que lhe acometia e também em sua entusiasmada busca por uma unificação etérea de freqüências, onde pudesse deslumbrar um ser e o sê-lo e com isso se aprazer da mesma água que a gente sendo fogo apaga e do mesmo fogo que pela água a gente se deixa apagar de loucura.
domingo, 22 de fevereiro de 2009
Nós na data
na dança estardalhante de suas datas
cores empilhadas, misturas do belo e do burro
mistura pois dentro e através dos muros
onde escondemos o ar barulhoso de nossas tardes
por certo é que só quem passa faz do encanto
o espírito e não se cança... o cansaço é certo
virado e rente à cruz do grande mistério...
vendo tanta gente no calhamaço escorrido pelas vias
de estouros e harmônicos entre metais e cerveja
entre as mais mortais das vozes...
na maioria das vezes...
confuso e ardente ao irritante adorno da euforia
responsável em absoluto pelo desejar do lance a cada lance
alheiam-me as memórias de antigos prazeres sem causas
somente por estar no burbúrio que infecta
não por doença, mas que nem... de sintomas virulentos loucos
todos amalgamados... todos nós nas festividades de aproximação com o bicho
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Salve
Tantos carmas que fogem por vacilo e, ainda
Metem grilo nos ouvidos
Não existe possibilidade de imobilizar traquéias
Nem mesmo de lamber gargantas velhas
Ou dos velhos pesares tirar alguns prazeres
Possível é a mudança habitual da forma
De lidar contigo. Passível estou para sem rancor
Partir sem presenciar teu ombro amigo
Pode ser pretensa a vírgula que pontuo
Em teu perdão
Pode ser até crença; avolumada pretensão
Mas, peço! E nele misturarei profundo timbre
E nele espero que para a lua
Meu ambiente interno migre
A culpa me ventila em teste de salto livre
A corda que puxei enforca o olhar pro chão
Conduzo meu rebanho de camélias
Para que toda vida esteja em tua mão
Salve a cor da retina da névoa que enxergo ao longe
Salve a força que do sonhar nunca se esconde.
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
O caso da Bealsdona (Conto Tentativa V)
Douglas morava no F. Marley no E. Eu no D. Thiago no C. Regina no B e, finalmente Danilo no A. Combinamos de, do F para o A, ir subindo pelos becos das ruas, passando de casa em casa até chegar.
Sempre foi assim na real... A galera era colada mesmo.
Claro que ninguém passava lá no Douglas. O F dava para um brejo cabuloso. Da casa dele só se sai-saindo, por conta de depois do brejo não haver nada. Só mato. E todo o comércio se encontra na outra direção.
Quando chegaram Marley e o bicho lá em casa estavam os dois grilados por conta das histórias de um primo tal que havia lhes contado sobre os efeitos colaterais da plantinha bonitinha e cheirosinha. Diz-se que essa parada é abortiva! Que você nunca mais pode voltar da lombra. Que sempre deixa seqüelas naqueles que a experimentam.
Seqüelas... Como estados de demência, onde a pessoa se comporta de maneira um tanto retardada em situações cotidianas.
Dei valor não, ainda mais que outro dia a gente tinha feito uma seção de cogumelos. Passamos sete dias na loucura. E daquela vez, também soavam boatos sobre o caso de um maluco de skate doidão de cogú ter parado em frente a uma bomba de gasolina e danado a atacá-la com o lado dos truques e das rodinhas. Enquanto golpeava, veio um frentista e deu-lhe um encontrão. Voou uns dois metros e pôs-se a chorar.
- AArrrhhhh! Meu amigo está lá dentro. Arrrrrrhhh! Meu amigo piriquito!
Nossa! Meu irmão, que doidêra.
Outro caso de mesma ocorrência foi que o Farofa chegou em casa na madrugada e ligou o som na maior das alturas. E cantando junto e bebendo sabe lá deus o que, foi interrompido pela mãe.
Toc, toc, toc.
- Menino! Abaixa este som que já passam das cinco horas da manhã, pombas!
Farofa abaixou o som e não deu dois minutos baixou no quarto de seus pais, escorregadio pela porta tipo o Kramer do Seinfeld.
- Mãe! Vamos lá para a cozinha que temos de preparar comida para quatro pessoas amigas minhas que vieram dormir aqui e estão mortas de fome!
O pai do bicho indignou. Pulou da cama já gritando puto o por que diabos pessoas estavam na casa dele aquela hora e o por que demônios não lhe tinha o Farofa avisado.
Foi um passo pro quarto do Farofa e lá não mirou absolutamente ninguém.
- Puta que Paril! Você deve estar de sacanagem com a nossa cara! Liga o som numa altura sem limite na madrugada e ainda vai comprar desaforo com a sua mãe de fazer comida para ninguém! Como assim? Você só pode está drogado seu moleque!
- Qualé pai, não delira! Está vendo não? Este é Rodrigo. Aquela Micaela. No canto ali tá o Francisco e esse do teu lado é... Como é mesmo o seu nome?
Nossa... O bicho saiu apontando o vento e dizendo sério que no vazio havia pessoas que conviviam conosco. Tipo espíritos. Deu até nome a eles... Até esqueceu o nome de um deles!
No dia seguinte o Farofa foi internado. Ele até hoje anda meio alucinado.
Por vez não é que convidou Regina e eu para irmos numa cachoeira que dizia saber onde ficava!
Veja bem. Chegando lá, era um poço de 1X1 e um filete d’água que despencava garoa de uns nove metros de altura.
Tomar banho ali só de cuia. E no mais tem que jogar a água nas costas. Horroroso! Voltamos para trás.
Quando na pracinha trombamos o Glauco - que foi quem esparrou a lombra do Farofa pra gente - o próprio Farofa marcou pro dia seguinte nos guiar até outra cachoeira mais distante, seguindo o curso do rio lá do poço de 1X1.
Rolou. Foi até mais gente. Chegamos ao poço e daí o Farofa disse que tínhamos que descer pelo rio.
Lá fomos.
Andamos por mais de cinco horas seguindo o curso por dentro.
Tinha um mano com um cachorro pastor, bonitão. Outro que levava vários suprimentos indispensáveis dentro da touca para não molhar, tipo cigarros da geral, fósforos, esqueiros, cedas, os do verdim, etc. - caiu no caô de que quando o rio faz barriga se tem de passar pelo meio. Só tinha eu sabido dessa para barcos...
Foi lá o pastel pelo meio... Afogou até a cabeça. Conseqüentemente molhou todas as coisas.
Interessante é que no final aconteceu algo quase parecido com o pastel lá do cachorro... Só um momento.
Sim. Chegamos até a cachoeira. Farofa correu por sobre uma pedra e se jogou. Para mim o bicho tinha se matado. Quando penso que não, um poço. Pô. Massa!
Para quem conhece é a da Embrapa. Aconchegante e com águas boas de se misturar. Dominamos no ato. Mergulho, zoeira e se jogar nas pedras morto de nadar pra fritar igual um calango.
Mas, os malucos eram meio babacas. A conta de tu dormir que te sacaneavam. Fato surreal foi a havaianada no ovo que o Jander deu no maluco da touca.
No ovo, de fazer mancar três dias.
O Farofa tomou foi um queimadão de lagarta.
Sem limite!
Mas, engraçado foi o truta do cachorro que ao final disse ter sido o mais esperto por conta de ter levado uma roupa extra e que nós estávamos todos sujos e molhados por conta de termos feito a caminhada pelo rio. Ele lá todo pu pu pu caminhando pelo caixalete de concreto que tem, onde passa a cachoeira e ao meio se encontra uma espécie de caixa d’água. O maluco lá de boa, tirando onda e lavando os pés e, de repente: Timbumshua! Ficou pelos cotovelos se apoiando no concreto e pedindo ajuda para sair.
Tinha um buraco no meio da extensão do concreto e o bicho caiu dentro da caixa d’água e se molhou inteiro! Quase se afogou. Risadas a parte ele voltou todo molhado para casa e se imundiçou no caminho.
Enquanto íamos em direção à casa de Thiago dei de contar essas histórias.
Beirava já umas três e meia.
- Êi pessoal! Silêncio aê, rapidão! Xiiiii. – Pronunciou Marley insinuando vozes que pulavam por trás de um dos muros do beco.
- Curte só. Acho que tem um casal discutindo. – Continuou.
- Poxa vida. Eu não fui feita para ficar sozinha. Faz 13 anos desde que nos vimos pela última vez. Eu estava tranqüila sentada na saleta da varanda e você chega do trabalho sabe lá com que moléstia e diz que vai me abandonar, sendo que não faz nem três semana que chegou?
Percebe. Uns barulhos esquisitos de facas tilintando sobre a mesa e suspiros profundos demonstrados. Não sei nem se a moça estava falando com o marido, com o filho, com o primo ou com a parede, só que não se ouvia resposta. Daí já num é discussão.
- Eu preciso ir. Não dá mais para ficar aqui nessa vida. Tenho de rumar para outro canto imediatamente. Você tem que entender. Daqui três anos eu retorno. Agente termina de conversar.
Outra voz de mulher.
- Mas, estou quase para morrer! Em três anos talvez eu já não esteja mais aqui minha filha!
Ah. Agora sim. Deu para sacar que é discussão de mãe com filha.
- Se for o caso de você morrer eu venho imediatamente. Não se pode evitar esse tipo de coisa. Estando eu aqui ou não você vai morrer. Até eu posso morrer pra onde vou. Talvez seja a senhora quem irá em meu enterro.
Caramba. Bolei com esse comportamento. Do tipo muito dôooido e... de rocha.
- Papai chegará em uma semana. Não há com o que se preocupar. Irei sair esta noite e não precisa me esperar. Deixe as coisas como estão e vamos seguir as nossas vidas separadas. Não quero ter de cair na desfeita negativa dos pesos do passado.
Rancores, depressões?
Fraquezas de espírito, isso sim.
Eu já não tenho nada a ver com tudo isso aqui que vocês chamam de família. Se Ingrid me ligar, por obséquio avise que a amo e que em breve iremos nos encontrar.
Terminou o discurso dela enquanto passávamos para outra área verde.
Dava para ouvir. Mas, na verdade isso é o que entendemos que estava acontecendo. Ouvia-se também soluços distantes, meio de criança depois de um xorerê.
- Thiaaaagooooo!
Gritou Douglas, forçando os braços contra a muretinha da casa e impulsionando um salto que o colocou sentado com as pernas viradas para dentro do quintal.
- De qual é, seus comédia!? Vamos seguir? Acabo de falar com o Danilo e a vó dele já saiu faz tempo. Por conta do quê vocês demoraram tanto?
Saiu Thiago descalçado, virado num andrajo.
Thiago fala. Parece que tomou água de chocalho. Assim diz minha avó quando ele vai lá em casa.
- Esse menino fala mais que o homem da cobra. Parece até que tomou água de chocalho.
Ainda mais de férias. Sem nada para fazer, tendo que saltar de bicos para render um troco...
Curioso o fato de quando ele está de trampo se cala. É de se ver. Mas, do contrário, fala... De causar vertigem em bêbado.
Para seguir e confirmar, disse ele:
- Ontem fiquei nas madrugadas acompanhado por uma obra magnífica.
- Ah é? E qual foi? – Retruquei seu gosto.
- Por um acaso você já teve o prazer de ler Reflexões sobre a vaidade dos homens? Livro definitivamente magnífico!
- Creio que ouvi falar. Não seria de Matias Aires?
Tinha outrora me ido com uma colega pesquisar livros em um sebo. Lembro-me de ter sido ludibriado pelo vendedor por cálculo desse livro que comprei por 6 pratas. Barato até teria sido se o seu conteúdo fosse mesmo o de seu titilo. Não era. Comprei uma coisa e me veio outra dentro. Não ousei lê-lo inteiro ainda, mas sei que não tem nada que ver com Matias Aires ao passo que trata de astrologia e da expansão de satélites artificiais na órbita terrestre... Só isso. Vamos ouvir Thiago.
- Olhem que no ontem a noite fui ter de encontro com uma moça e, no ínterim, para resumir, fui arrastado pela madrugada. Fiquei sentado na rodoviária lendo Reflexões sobre a vaidade dos homens. Como já tinha puxado um basenight e estava já ressaqueado de tabaco e cerveja, li como se faz com livros de conselhos espirituais, onde se fecha os olhos, pensa em uma situação trivial da vida e abre em quaisquer página. Já havia eu feito isso com outro autor. Passamos a noite inteira no apartamento do Diógenes perguntando coisas para o livro. Foi engraçado e, vai por mim, caso escolha o livro certo ele te diz tim tim por tim tim o que está rolando. Foi nessa que todo mundo embarcou naquela piada interna de ao invés de se falar - numa situação de negação - Deus me livre, a galera fala Deus e o livro! Lembrei também da vez que o Chico viajou de interpretar as imagens contidas em alguns livros satanistas. Umas pinturas renascentistas com demônios degolando anjos e bruxas mágicas sobrevoando os ares, lançando raios pelos dedos sobre os deuses do Olimpo! Tudo só para loucos!
Toca o telefone de Douglas. Salvos pelo gongo.
Douglas se afastou mais, indo de passo longo para casa de Regina.
Thiago prosseguiu.
- Aquele maluco. De pé no teatrinho de arena que tinha lá em Sobral. No alvoroço do tapa da embriaguês, lançando verbos sobre a verdade contida por trás das imagens de Lúcifer. Três, sentados na escadaria alterados pelos desacordes das notas apanhadas com agressão do violãozinho guerreiro que já pulou até muro de casa dos outros para fugirmos da polícia. Todo mundo num berreiro periculoso. A gente fumando erva atrás do Ponto Frio. Da vez que o segurança sentou o aço na reta do Chico por conta dele ter dado com o caibro em sua cabeça. Somente zoeira fí. Naquele tempo era terror e pânico!
- Olha só. Regina me ligou e já está lá com o Danilo. A féla nem esperou. Mas, também a gente enrolou para caralho. Disse que o chá já está é pronto e que Danilo já tomou a dose dele.
Informou Douglas que já ia de virote no beco para rua do Danilo.
Dei umas passadas longas tipo final de corrida. O povo me acompanhou.
Chegamos dois palitos.
- E aí geral?
Nos recebeu Regina. Os cabelão bonito de caracol na cabeça.
- I aê! Cadê o Danilo? – Perguntei.
- Da hora que liguei pra vocês ele entrou no banheiro.
Disse ela com um ar meio suspeito. Meio irônico. Meio escondendo um riso por trás de pensamentos meticulosos. Fiquei um tanto preocupado, mas, quando vi Marley enchendo a taça de cristal até o gargalo me desfiz completamente desses pensamentos.
Fui ter com Danilo afinal.
Bati na porta. Nada.
- Bóra meu camarada é a polícia! – Gritei de sacanagem.
Nada.
Uai! Deixe ele aí e ver até onde vai.
Peguei a menor taça, porém que eu achei mais bela. Com detalhes de prata e voltinhas tribais disciplinadamente simétricas conjuntando a forma de um elefante no centro. Na borda havia silhuetas douradas de um segmento de linha barroca.
Enfim, despejei o chá na taça. Para mim eu já estava em outro planeta naquele instante. Douglas já tinha tomado duas doses e transitava sorridente pela sala, repetindo em voz alta que não ia bater.
Dei minha talagada. Urg! Gosto péssimo. Tanto que devo ter feito uma péssima cara, pois Thiago se acabou de rir depois que bebi o veneno.
Sentei-me na sacada, uns trinta minutos depois que bebi, virado para a sala de modo que percebia Regina na cadeira de balanço de olhos fechados. Douglas que corria atrás do próprio rabo dizendo que não ia bater a lombra e Thiago deitado meio babando no colo da Marley que acomodava igual passarinho o pescoço escaguletado na parede. Danilo não se sabia. Ainda mais que eu não conseguia me mexer de forma alguma.
Comecei a olhar para a parede e não me parava de zunir o ouvido a voz de Douglas – Não vai bater, não vai bater, não vai bater...
Avistei uma imagem de uma cadeira na parede.
Não vai bater, não vai bater, não vai bater...
Engraçado. Via-me sentado na cadeira. E quando isso de sobressalto me passava pela cabeça o meu referencial era eu sentado na sacada. Eu sentado na cadeira olhava eu sentado na sacada. Por vez inventei de olhar para o outro lado. Via outra cadeira e eu sentado nela. Daí me vi sentado na outra cadeira e sentado na sacada, sentado na cadeira.
Isso me dominou durante boa parte do que estava eu viajando.
Quando consegui sair dessa lombra eterna vi Danilo sair do banheiro flutuando e indo em direção ao Douglas que já estava esquisitofrênico de tanto repetir que a loucura não ia bater, andando rápido. Muito rápido de um lado a outro.
- Galera! Douglas! Você ta me ouvido?
Danilo se pronunciava e Douglas não dava a mínima. O restante estavam todos despejados pelo chão. Regina ainda no sofá. Estática. Parecia que estava meditando. O que será que devia de estar acontecendo com suas memórias?
Eu poderia crer que isso tudo era viajem da minha cabeça. Mas, não.
- Êi gente! Vejam o que aconteceu comigo! Não estou dentro do meu corpo! Meu indivíduo está jogado no chão. Vão lá no banheiro! Gente! Alguém me dê ouvidos!
Danilo se agoniava nos ares. Eu não conseguia me mexer um tasco. Ninguém percebia Danilo. Era tão estranho...
Conseguia escutar tudo o que ele dizia. Conseguia vê-lo nitidamente na minha frente. Conseguia sentir sua presença. Tudo inacreditável.
Cada espasmo dado de incômodo intestinal que sentia, devido ao gosto amargo e adstringente daquele copinho floral, era um embate com meu estado paralítico.
Sentia tudo... sentia nada...
Já parecia que era outra lombra, quando Danilo me veio de testa, olhando fundo em meus olhos com o corpo no vento.
- Você me pode ouvir? – Disse ele.
Forcei a máxima obra da fala, mas meu espírito estava completamente extasiado, de forma que o sentia roçando a pele em fuga, esquecido de ser gente.
- Pooooooooosssoo...
Pensei. E no pensamento desaparecia as outras coisas. Era firmar pensamento e desistir dos outros. Mas, Danilo continuava voando em minha frente.
- Êita porra! – Gritou uma voz desconhecida de algum lugar que ouvi.
Mirei um movimento e segui com os olhos a porta do banheiro se abrindo e Danilo no chão apagado.
Fiquei de cara. Realmente eu estava louco. Mas, não conseguia me mexer e aos meus olhos os outros estavam igualmente estáticos.
Foi bem devagar e sem audição que me invadiram as imagens do imediato enquanto recobrava a autonomia de alguns movimentos. Percebia agora os outros com menor melindre. Regina já passeava pela sala ao telefone.
No ato que consegui me levantar, pensei em Danilo.
Fui ter no banheiro.
- Cara! Sai daí! Preciso usar o vaso.
Disse isso e nada.
Repeti mais outras frases e começou a preocupação. Dei algumas murrancas na porta e... nada. Pedi para parar com essa palhaçada e que daria cinco segundos para ele sair dali senão eu entraria no arrombo.
Meti o pé na porta. Danilo estava escorado com a cabeça no bidê que transbordava em água e sangue. Algo escroto morto. Enfadonho.
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
Anseio cedido
Meu ego amplexo oleoso e instável
Das cargas que teria por obrigação carregar
Ao vento sobrou a ingratidão de não mais
Soprar os colapsos deixando-os colidir no ato de pensar
Que vale mais que a dor que ainda almejo
É a sensação sadia do beijo... não
Estou mais aqui! Fundi-me com as cores da relíquia
Supra humana do carinho de tuas natas
Onde chegar... subliminarmente não conseguir falar;
Menos ainda encontrar ou gesticular sobre o que escondo
Das pálidas penas que o sono me traz para nada o sono resta
Escrever as histórias que passo...
Nada e resta sono a linha a espera do abraço
o Infante
Rentes ao sortilégio onde caio
Noite atraente que falha as frestas de um abismo
E que a mim só faz sentido de soslaio
A espuma a qual me deito não acolhe nem as plumas
Daquele pássaro abatido... Devia eu ter rendido forças
Indiretas lacrimais ao invés de por deleite ter elas contido
Na mesma lama em que mergulham aflitos
Seres fracos com efêmeros princípios
Já nadei, perdendo ar de tanto esgoto e,
Agora sei que mesmo sem entender
Que ser garoto fácil é querer dormir contente
Livre de anedotas subconscientes
A fio dominantes...
Retiro das centelhas do medo
Equívocos permanentes d’antes
Na intenção de sentimentalmente ser sadio
Trabalhar comigo... acalentar o amor e tê-lo como abrigo.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Pode ficar
Ilusões daninhas tais que adormeciam
depressões confusas por certo
rodaram-se juntas num moinho
tensa clarineta aguda que devora
é o som todo que agonizou minha fronte
sei que se seja estorvo seja agora
já que a mim não cabe ao céu nenhuma ponte
faz falta não toda a vida
da arte incapurável de um ninguém
que por demais seu sono atordoa?
ou bibocas velhas substâncias
que rancam tampa ao grosso amém
Conteúdo falho súbito que ecoa?
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
E-Difícil’us de carne (Parte II)
Nem tanto se mostra, mas, o auxílio é fixo ao fruto horizonte.
Deitar-se em poças.
Caros rumos...
Descrevam nossas soltas saídas
Nossas invariáveis voltadas
Nossas empreitadas agonizantes quando em sombrios estados...
Rango.
A arte altera em diferença... Os demais caminham
Triste absurdo ter de sair
Somente por conta daqueles que pecam
Quando sozinhos sem lei
Liquidificações magnéticas... Desconexas...
Convexas.
Conversas,
Consigo inconformadas por atividades escondidas...
Por arrepios que sussurram fronteiras
Cardumes são o que prefiro... Memórias fracas
Raridade atormentada de possibilidade grande como a do palanque
Kai
acharam que não seria eu capaz de honrar ações
malditos! fervam nas labaredas das imprecisões
e rastejem até serem tudo um só bagaço
não medro, se é o que de mim mais almejam
querem eu como alvo das discórdias
mas, queixem-se estou salvo!
meus ritos travam seus tentáculos
estou fortificado pela ausência...
podem vir que não adianta!!